quarta-feira, 6 de maio de 2009

horas não estúpidas


acabou a luz. sem crise. acendi uma vela, coloquei-a estrategicamente posicionada no centro da mesa, sentei-me em frente a ela e peguei um livro que tinha jogado por ali no dia anterior.

antes de abrir o livro e começar a ler, pus-me a olhar para a vela. o fogo é, ao mesmo tempo, tão suave e tão intenso, como todas as coisas naturais. forte demais, pode causar grandes desastres ou trazer grandes benefícios. frágil demais, que assim, por exemplo, sobre uma vela, pode morrer com um sopro ou uma brisa qualquer.

nós somos como o fogo. mas somos o fogo que pode escolher se devasta ou faz bem, se domina a brisa, o sopro, ou não. me atrevo a dizer que o fogo, a água, a terra, o ar e os seres vivos que nos cercam, merecem mais respeito do que nós. mesmo sem escolha, estão lá desempenhando o papel deles, nos ajudando e nos deixando em paz quando necessário. e nós? escolhemos destruir uns aos outros e, muitas vezes, temos a insana coragem de usar essas coisas, as quais deveríamos respeitar, como meio pra essa destruição (texto de escola pareceu. ou aqueles do vestibular, sobre sustentabilidade. anyway!). francamente. como somos tolos.

enfim comecei a ler o livro. nunca antes o tinha achado tão incrível, intenso, emocionante. não há luz elétrica (a do fogo é tão mais bonita, inspiradora e quente!), não há televisão, rádio, computador, sequer aquele barulho eterno dos eletrodomésticos que já acostumaram (pessimamente) os nossos ouvidos. o telefone não pode tocar, escolhi desligar o celular também e não pegar nenhum desses aparelhos sonoros (por enquanto), mesmo sendo eles a bateria.

o clima tá incrível, como em épocas remotas que não vivi, mas as sinto. quando voltar a energia elétrica não duvido que eu a ignore. ou burra e pateticamente eu vá logo ligar um desses aparelhos. espero sinceramente que não tão logo.

difícil de explicar, a minha percepção, os meus sentidos, funcionando perfeitamente, sem ruído (para nós comunicólogos, tudo aquilo que atrapalha algum sentido nosso, não sendo necessariamente barulho) algum. acho também que peguei pra mim muito da energia do fogo. sinestesia.

meu coração que batia forte demais há dias, acalmou-se. minha cabeça confusa há meses, tá limpa. incrivelmente limpa! nossa... sério... muito sério... eu queria que todos pudessem sentir um pouco o que estou sentindo agora. isto não é literatura, nada, é real. sensações. sensações que são por nós enterradas cada dia mais fundo. emoções estupidamente trocadas por coisas tão práticas e tão banais. besteiras.

bateu tristeza ao lembrar que a luz vai voltar e levar essa vida embora, trazendo a fantasia prática e tola de volta. estupidez.